Lá estava ele, debruçado em frente a uma vitrine, de braços cruzados, pernas ligeiramente afastadas uma da outra, apenas para dar o devido equilíbrio a seu corpo já cansado. Possuía vestes simples, mas sua aparência deixava escapar resquícios da triste história que fora incumbido de viver.
Seu rosto,
apesar de castigado pelas facetas do tempo, estava dotado de uma satisfação
incrível ao observar a imagem á sua frente.
Era um pacote
azul, mediano, de um formato bastante intrigante, embora simples. Ele parecia
imóvel enquanto as pessoas iam e vinham sem ao menos notar sua presença ali,
embora perceptivelmente ele não se importasse. Embora inusitado, cogitei a
possibilidade de ser algo momentâneo, talvez estivesse só de passagem e logo
mais iria embora. Estava errada!
Como percebi que
ele não se mexia, sentei-me por imaginar que possivelmente não sairia dali. Ora
sorria, outrora esboçava um singelo tom de duvida seguido de um suposto ar de
encantamento, que pareciam não acabar nunca. Fiquei me perguntando por quanto
tempo mais ficaria ali, e se eu seria capaz de acompanhar ininterruptamente o
processo no qual havia se empenhado. Já me preparava para ir embora, quando
notei que ele encaminhavas se em minha direção, meu coração disparou, fui
tomada por uma euforia sem fim, em imaginar descobrir o real motivo de seu
encanto. Pensei em diversas palavras nas quais poderia formular meus
questionamentos, mas quando ele sentou ao meu lado, tudo fugiu de mim como se a
brisa tivesse levado embora meus pensamentos.
E o silêncio
fez-se presente até que o som de sua voz irrompeu a ausência de palavras.
"-Ali está
contido o presente mais bonito que alguém sentiria vontade de ganhar, é apenas
um pacote, um belo pacote por sinal, de cor forte, bonita, simplesmente azul.
Muitos passam e não o vêem, não se importam em enxergar a beleza que ele possui,
só porque está encoberto por aquele embrulho, que contorna todo o conteúdo
existente nele. A maioria não nota por que preferem que tudo esteja a mostra,
pelo medo de estar comprando algo incerto, que pode lhes causar certos
prejuízos. Penso que esse ato reflete o que se passa em suas relações. Já não
se importam em descobrir o que o outro de fato é, não se comprometem em fechar
os olhos e sentir com a alma, frustram-se por não saberem o que querem e
decepcionam-se com o que encontram, vivem em busca do que não existe, e deixam
passar despercebido o que está a sua frente. Ficam na superficialidade, não se
submetem a contemplar a beleza do embrulho antes de livrar-se dele, querem
apenas o que ele possui, e quando não gostam do que vêem simplesmente abrem mão.
Corações se dilaceram, lágrimas caem, sonhos são bruscamente interrompidos, e
um sentido de vazio tomam conta do lugar. Resta-lhes somente o desespero.
“Olham pra mim
como se eu fosse um louco, e mal percebem que loucura maior é contentar-se
apenas com a beleza do embrulho, uma vez que se pode ir além.”
Ao ouvir isso,
permaneci em silêncio...
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